Quase dá pra comemorar...mas ainda é cedo. Perto de terminar as sessões semanais de quimioterapia, fui informada que durante um ano, a cada três semanas, devo tomar um reforço de Herceptin, uma das drogas que já vinha tomando. Tudo bem, já passei pela primeira: é na veia, mas dura somente meia hora, enquanto antes eu ficava duas horas e meia presa ao tubo de soro. Resta saber se as sensações (peso, cansaço, formigamento etc) vão permanecer por um ano, ou desaparecerão antes disso (devidamente anotado para falar do assunto na próxima consulta). Não vejo a hora de ser dona do meu nariz outra vez, voltar a dirigir e poder resolver coisas triviais sem precisar mobilizar a família toda.
Paralelamente comecei a fazer radioterapia, no Instituto de Radioterapia Waldemir Miranda - IRWAM, no Paissandu. Quem estiver lendo este blog, aceite um conselho, pois vos fala a voz da experiência: nunca aceite, para sí ou familiar, se for o caso, ser tratado neste lugar. No meu caso são 28 sessões, de segunda a sexta-feira, das quais já se foram três. As aplicações duram apenas 20 minutos, e os técnicos são atenciosos. O grande problema é esperar cerca de quatro horas até ser atendida! Já xinguei até a quinta geração da minha oncologista por ter me encaminhado para um local onde gestão administrativa competente e respeito aos pacientes são palavras jogadas ao vento. Só pra dar um exemplo: na segunda-feira, 28 de abril, que seria o início do tratamento radioterápico para mim, cerca de 40 pacientes estavam marcados para o turno da manhã, mas o expediente começou com as sessões de planejamento do tratamento de mais cinco (detalhe: tanto o planejamento quanto o tratamento necessitam do uso das mesmas máquinas, um acelerador linear ou uma de cobalto, dependendo de cada caso). Às 11h30 o paciente marcado para às 8h ainda não tinha sido atendido. E às 14h30, simplesmente todos foram mandados embora porque o acelerador iria entrar em manutenção! Com a recomendação de que telefonássemos no dia seguinte, pra confirmar se a máquina estaria funcionando!
Alguém já viu um desrespeito maior? Entre os pacientes - muitas pessoas idosas e frágeis - vários vêm do interior e até de outros estados, como Paraíba e Alagoas. Pessoas de diversos bairros vêm de ônibus, num sacrifício enorme, e todo mundo sabe do que estou falando porque a qualidade do nosso transporte público é sobejamente conhecida. Alguns usam bengala (como eu, agora), para ajudar a suportar o peso nas pernas. Ah, gente. Rodei a baiana, soltei o verbo, xinguei pela falta de respeito com todos ali, pela incompetência administrativa (porque não consta no contrato que a manutenção seja feita no sábado ou de madrugada?), reclamei pela falta de estrutura, pois os banheiros são mistos e sem saída de ar (ui, que fedor!) e não tem sequer um local para venda de lanche nas proximidades, etc etc etc.
Pensam que adianta? Meus companheiros de radioterapia parece que já estão acostumados com esse desrespeito e, aos poucos, foram saindo calados. Pensei em cancelar tudo e tentar me transferir para o Hospital Português, mas teria problemas com a burocracia do meu plano e atrasaria em mais um mês, no mínimo, um tratamento que já estava começando tardiamente, porque a radioterapia tem mais eficiência quando iniciada até seis meses após a cirurgia, e a minha já tem quase oito meses (culpa do IRWAM, que cometeu vários erros de encaminhamento administrativo comigo, atrasando meu atendimento; mas isso é outro papo). Assim, fiquei refém da falta de estrutura do instituto. Dia seguinte, liguei e ouvi que "a máquina está funcionando mas estamos um pouco atrasados porque teve queda de energia, e precisamos reiniciar o acelerador". Enfim, os problemas acontecem diariamente. Tenho saído de lá depois das 3h da tarde, faminta, cansada e aborrecida, e o meu trabalho na Cepe Editora está sendo prejudicado. Mas, para não preocupar mais a família com meu jeito estressado, porque "não adianta de nada" , resolvi ficar zen e seguir a maré. Nesse país, ou a gente fica abilolada ou morre de raiva, enfarto, estresse...
E assim (des)caminha a humanidade...
Eu, Mariza.
Jornalista. Revisora de livros. Mãe de Maíra. Criadora de gatos. Batuqueira de maracatu. Viciada em filmes antigos, séries de TV e blogs de literatura. Estudante de francês e inglês. Acredita na humanidade, apesar dos pesares
Dá uma alegria, uma garra para levantar e ir trabalhar, Mariza, vendo um exemplo deste - parabéns e forças!
ResponderExcluirAh! Sua vitalidade está no espírito guerreiro e questionador, minha cara Mariza! Só poderia ser uma autêntica jornalista a reclamar a falta de estrutura desse local. Mas, torço que, apesar de tantos entraves, você restabeleça prontamente sua saúde. Um beijo e um grande abraço, que Deus está do seu lado, sempre!
ResponderExcluirObrigada, querido. Aproveito pra dizer que amei seu livro, O metal de que somos feitos, os textos são fortes e surpreendentes.
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