Sou uma das personagens do livro O Peso do Vento, de Bruna Monteiro, que inspirou o projeto Além da Cura - Beyond the Cure. Conheçam o projeto e colaborem com seu financiamento. É uma grande iniciativa.

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Aconteceu comigo o mesmo que com todos que começam um blog enquanto estão com câncer: quando melhoram, abandonam o dito cujo porque estão muito ocupados em curtir a vida. Por isso, depois de mais de um ano, voltamos de cara nova, eu e o blog, para contar que retomei o projeto de férias que abandonei quando descobri minha doença em 2013.

Escrever um blog nessa situação é bom para ocupar a cabeça, desabafar, registrar os acontecimentos e ajudar outras pessoas com as descobertas que fazemos sobre tratamento e qualidade de vida. Mas, na medida que melhoramos, outras prioridades vão surgindo e o blog aos poucos vai ficando de lado. Natural.

Retomei meu projeto de viagem, com minha irmã Marliete. Nos juntamos a minha filha e meu genro em Lisboa, onde ficamos no bairro de Alfama e, entre outros passeios, conhecemos o Mosteiro dos Jerônimos, a Torre de Belém e uma casa de fados, ora pois.  Depois percorremos uma rota de carro em direção a Madri, seguindo pela estrada de Cascais. Registro sem preocupação cronológica que passamos pelo Cabo da Roca, Sintra, Coimbra, Óbidos,  Porto, Pontes de Lima (de onde procede nossa família, uma das vilas mais lindas que já vi), Leiria, Tomar, Guimarães,  e  outros vilarejos, vsitando castelos e pontos históricos, comendo gostosuras e tomando muito vinho. Entramos na Espanha por Salamanca, conhecemos Ávila, Serra de Gredos e finalmente Madri.

Depois voamos para Estocolmo, para a casa de minha filha. Muitos passeios na floresta com meu "neto" Astro, um Golden Retriever lindo de três anos e cerca de 35 quilos. O outono nos deu uma mostra maravilhosa de uma estação  em que as folhas das árvores vão mudando de cor, passando do verde para o amarelo dourado ou marrom-avermelhado, uma paisagem de puro encantamento apesar do frio cada dia mais intenso. De quebra,viagem de navio para a Estônia, com direito a paisagens lindas e almoço em um restaurante medieval.

Foram 35 dias de férias, que representaram uma celebração pela superação da doença. Amanhã retorno ao trabalho, com energias renovadas e já programando a próxima viagem. Aguardem as novidades.

O mês de outubro faz-nos lembrar, com mais ênfase, da ameaça que paira sobre todas nós, mulheres: o temível câncer de mama. E, consequentemente, que precisamos usar todas as armas para combatê-lo. Embora essa seja uma luta permanente, outubro foi eleito o mês que a simboliza, quando diversas ações são sistematizadas para chamar atenção do mundo sobre esse flagelo que ainda mata muitas mulheres ou as estigmatizam com mutilações. O nome Outubro Rosa remete à cor do laço rosa que simboliza, mundialmente, a luta contra o câncer de mama e estimula a participação da população, empresas e entidades

São muitas iniciativas visando despertar a atenção para os cuidados necessários. A mais comum é vestir rosa, cor  escolhida para simbolizar a luta anti-câncer de mama. Além das pessoas, muitas instituições se "vestem" de rosa neste mês, como a Catedral de Brasília, a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro e a Prefeitura do Recife, entre outras representações de esferas bem diferentes. Além das iniciativas individuais, muitas são institucionais, adotadas por hospitais, ongs, governos etc em todo o mundo. Uma das mais interessantes é a campanha veiculada pela Nestlé em parceria com a agência McCann Paris, que quer fazer com que as mulheres prestem mais atenção aos seus seios no sentido da prevenção.

A campanha levou uma atriz às ruas de Londres durante um dia, com uma câmara acoplada ao sutiã, registrando todos os olhares. A frase de encerramento é  "Todos olham para os seus seios, mas qual foi a última vez que você os analisou?". O objetivo é lembrar as mulheres que verificar os seios regularmente pode ajudar a prevenir o câncer de mama. A hashtag#CheckYourSelfie marca a iniciativa nas redes sociais. 

Câncer de mama é o que mais atinge as mulheres no Brasil -  de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são mais de 57 mil novos casos estimados em 2014 e considera-se que a idade ainda é um dos principais fatores de risco: quatro em cada cinco pacientes têm mais de 50 anos.O diagnóstico precoce da doença é o primeiro e mais importante passo para a cura. Neste ano, a campanha terá uma série de atividades espalhadas pelo país. O site MdeMulher compilou as principais ações pelo Brasil. Entre as que chamaram mais a atenção está o lançamento da rede social "Coneccte", projeto idealizado pelo Instituto de Oncologia Santa Paula (IOSP) com o objetivo de promover o diálogo direto entre pacientes com câncer. E o Instituto Se Toque, que atua na promoção da saúde da mulher, com foco no câncer de mama, está fazendo uma mobilização online por meio da hashtag #HistóriasdeSuperação. Durante todo o mês ele compartilhará com os internautas em suas redes sociais histórias de mulheres que venceram o câncer de mama.

Já a Cia Athlética apoia a campanha com o hotsite Amiga do Peito, no qual é possível fazer um cadastro que envia às usuárias um lembrete mensal para o autoexame. Além disso, um espelho de cada unidade da academia será destinado para que as pessoas coloquem mensagens de motivação e apoio, incentivando uma selfie com a hashtag #selfierosa.Nos hospitais públicos, a principal iniciativa é estimular a procura pelo exame de mamografia, gratuitamente.

Fui hoje tomar minha oitava aplicação de Herceptin, o que ocorre a cada 21 dias. Como sempre, duas tentativas para pegar uma veia boa porque, com o tempo, elas vão ficando "cansadas". E, convenhamos, de 8 de novembro de 2013, quando iniciei a quimioterapia, até agora, foram muitas furadas, da mão até perto do cotovelo. A previsão é terminar em janeiro esse complemento do meu tratamento, que não é considerado propriamente uma sessão de químio, já que não se trata mais de um coquetel de drogas e sim de uma droga isolada.

O Herceptin  é para aumentar a imunidade, evitando que as células enlouqueçam, e só é indicado para o tratamento do subtipo de câncer de mama HER2 positivo, que representa de 15 a 25 por cento dos casos (porque será que eu nunca ganhei na loteria?! Vou passar a jogar mais...). O subtipo é identificado no teste molecular de imunoistoquímica, que é a "carta de identidade" do tumor , realizado após a cirurgia. O Herceptin já fazia parte do tratamento desde o começo, mas minha onco achou por bem que eu continuasse tomando por mais um ano, porque ele é um anticorpo que é atraído pelo receptor Her2, uma proteina abundante nesse meu subtipo, que alimenta o câncer. A função do Herceptin é invadir essa proteína, provocando distúrbios no funcionamento das células tumorais (morram desgraçadas!), por isso é chamado de "terapia-alvo".

É claro que nessa altura eu espero que as tais células tumorais estejam mortinhas da silva. Mas o complemento da quimioterapia, junto com a hormonoterapia (um comprimido de Tamoxifeno após o jantar, durante cinco anos), é importante para prevenir a recidiva, o terror de todo mundo que já teve câncer. Meu Tamoxifeno já mora na mesa da cozinha, e o último gole da bebida do jantar, geralmente café mesmo, vai junto com ele, assim não esqueço de tomar o bendito.

Como cantava o baixinho Nelson Ned e o grandão Agnaldo Timóteo..."mas tudo passa, tudo passará; e nada fica, nada ficará...". Pois é, devagar, devagarrrrrrrrrrr, mas vai passando. Faz um ano que recebi o diagnóstico de câncer e comecei uma correria de consultas, exames, autorização do plano de saúde para a cirurgia de retirada do tumor da mama,  ultimar coisas no trabalho porque teria de ficar um tempo afastada (pensei inicialmente que seriam 15 dias e acabou sendo 60),  e na última semana antes da operação, que foi no dia 17 de setembro, tratar de uma grande faxina em casa, lavar todas as roupas e fazer uma grande feira, porque iria ficar "de molho", dependendo da ajuda dos irmãos e irmãs. Como isso tudo já me pegou cansada - eu ia viajar de férias e tive de cancelar - e ainda se juntou com outros problemas, acabei tendo um baita estresse; daí porque acabei ficando dois meses sem trabalhar, me recuperando da cirurgia e do cansaço: férias em casa, na rotina de doente, cuja única distração era ver filmes na TV.

De 8 de novembro de 2013  a 7 de julho de 2014 foi o tratamento de quimioterapia e radioterapia. No começo tentei usar peruca e lenços mas detestei tudo e passei a desfilar minha careca lisinha, que só cobria com uma boina ou a echarpe  - ficava parecendo uma muçulmana - quando o frio dos aparelhos de ar-condicionado batia no cocoruto. Durante esses oito meses conheci várias pessoas que passavam pelo mesmo problema, e todas, sem excessão, citavam Deus - com mais ou menos intensidade - como a força motriz que iria levá-las à recuperação. Eu, mulher de pouca fé que sou, mais confiante no poder da ciência do que no das rezas, me limitava a ficar calada, pois se tem uma coisa que eu respeito é a religião das pessoas e acredito realmente que a fé ajuda a remover montanhas, desde que quem a tenha não se limite apenas a orar, mas empreenda esforços para obter o benefício que deseja. No nosso caso, fazendo direitinho o tratamento médico.

Muita gente também dizia que "aprendeu muito" com a doença, que "aprendeu a dar mais valor à vida"  ou que "vai fazer tudo diferente, de agora em diante". Eu  acho que, com raríssimas  excessões, não dá pra mudar o modo de viver de uma hora pra outra. Tenho visto que muitas dessas promessas são feitas no calor do momento, mas depois a vida segue o ritmo normal e a pessoa faz exatamente o que fazia antes, porque a forma como a gente vive é construída ao longo do tempo, incorporada por uma série de  elementos, como nossa carreira, nossos gostos, nossa família. No máximo, dá pra fazer alguma adaptação não muito radical, como pedir aposentadoria para não ter de se estressar com  trabalho - apenas antecipando algo que seria inevitável em alguns anos - ou tentando comer de um modo mais saudável.

Também entendi que, muitas vezes, quando alguém pergunta "como você está?" não quer realmente saber como você se sente, não quer detalhes sobre suas dores, sua fadiga, seu peito queimado pela radiação, suas unhas cheias de fungo, suas noites insones, nem nada. Elas estão apenas sendo educadas, cumprindo um rito social. Uma pessoa me telefonou para conversar, perguntou como eu estava, e quando comecei a contar, me interrompeu, dizendo: "tá bom, só liguei mesmo pra saber como você estava". E desligou. Cada um tem seus problemas, que sempre parecem maiores que os dos outros. Experimente contar sobre sua doença, qualquer que seja, e logo seu ouvinte vai aproveitar o mínimo intervalo para falar da doença dele/dela, ainda que você tenha câncer e ele/ela tenha uma gripe. Todo mundo adora descrever seus padecimentos. Depois do episódio do telefonema comecei a ter cuidado para não encher o saco de ninguém com histórias de doença, e dar a resposta esperada: "ah, tô ótima", ou "vou levando". Apenas às pessoas mais íntimas, como minhas irmãs que cuidaram de mim, eu conto como estou realmente.

Mas depois de um ano, fazendo o balanço de tudo que passei, quando penso que cheguei  a precisar usar bengala e extrair as unhas dos pés, e que meu peito ficou em carne viva, queimado pela radiação, posso dizer que, embora ainda tenha algumas sequelas, estou mesmo ótima, e que "vou levando", retomando aos poucos minha vidinha de sempre.

 

 

 

Até que enfim tá terminado! Fiz a última  sessão de radioterapia no dia 7 de julho, e no dia 9 passei pela consulta de avaliação, quando recebi alta. Fim da obrigação diária de ir ao Hospital Português, para as sessões. Foram 30, quatro no IRWAN (já contei porque abandonei o tratamento lá) e 26 no HP. Isso não implica em anistia ampla, geral e irrestrita e sim numa semiliberdade, porque além de manter "resguardo" de sol, de bebida e de noitadas durante algum tempo, deverei comparecer a várias consultas médicas e manter um padrão de tratamento paralelo por uns bons cinco anos.

O peito queimado ainda vai demorar um tempo pra sarar; estou usando bastante gel refrescante e colocando algodão na parte de baixo, para evitar o contato do sutiã. Ainda esta semana receberei o relatório do médico, que deverei levar ao meu mastologista, mas ainda demorarei uns seis meses até ter condições de fazer mamografia. Também devo voltar ao cardiologista antes do final do mês, porque faz três meses da última consulta e marcar o gastro, porque os remédios esculhambam o estômago. Enfim, vou completar meu check-up neste segundo semestre, porque minha atenção ficou tão voltada para o tratamento do câncer que deixei de cuidar de outras áreas. Fora isso, a cada 21 dias voltarei na oncologista, durante um ano, para tomar um reforço de Herceptin (já tomei quatro, o próximo será no dia 25), e diariamente, até a metade de 2019, tomarei um comprimido de Tamoxifeno após o jantar.

É isso, e acho que já dá pra comemorar.

Há poucos dias a competente e linda Talita Correa,  repórter do Observatório Feminino, fez contato pedindo autorização para reproduzir trechos deste blog. Quanta honra! Independentemente dessa participação, indico a leitura do Observatório, onde  os assuntos que interessam às mulheres são analisados com clareza e perspicácia.

Taquí o link: www.observatoriofeminino.blogspot.com

Compartilho aqui os resultados de duas pesquisas que podem alertar muita gente sobre como pequenas atitudes do cotidiano são importantes na prevenção de doenças, em especial do câncer de mama. A primeira é um estudo da Sociedade Americana do Câncer, publicado na revista científica "Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention", que acompanhou 73 mil mulheres  de 50 a 74 anos, durante 17 anos. O estudo comprova que uma caminhada diária de uma hora diminui os riscos de contrair a doença, evidenciando a importância do estilo de vida para a saúde. É a primeira vez que uma pesquisa associa diretamente a redução entre risco de contrair câncer com os benefícios da caminhada.

Outra pesquisa interessante diz respeito a nossos hábitos de consumo, em especial o arraigado hábito de usar utensílios de plástico para guardar alimentos. Quanto mais colorido, mais o plástico contém partículas tóxicas em sua composição. O ideal é utilizar potes e outros utensílios de vidro, se a tampa for de plástico que seja transparente ou branca, e deixar sempre um espaço entre o alimento e a tampa, evitando que se toquem. O eixo principal da pesquisa é alertar para a importância de reduzir ao máximo o consumo de plásticos, em especial o hábito de guardar alimentos em embalagem plástica. A organização Breast Cancer Fundation  aconselha a se frequentar mais as feiras livres e substituir produtos de beleza e produtos de limpar a casa por soluções naturais e ecológicas.

O aspecto prático do uso do plástico o tornou imprescindível na vida moderna e fez com que fosse adotado em 100% dos lares. Mas o plástico, além dos problemas para o meio ambiente, traz também riscos para  saúde, por conter alto teor químico em sua composição, como o Bisphenol A (elemento dos blocos de policarbonato, usado em centenas de produtos, inclusive embalagens de alimentos); Phthalates ( encontrado em plásticos e PVC, associado a distúrbios endócrinos como antecipação da puberdade em meninas, o que constitui um fator de risco de câncer de mama);  Vinyl Chloride (um dos primeiros elementos químicos associado a incidência de câncer pelo National Toxicology Program (NTP) e a International Agency for Research on Cancer (IARC), responsável por grande número de casos entre os trabalhadores na manufatura de plástico e PVC); Dioxin,  classificado como carcinógeno e responsávelpor disfunções endócrinas pela International Agency for Research on Cancer (IARC) e a Environmental Protection Agency (EPA); e Styrene, encontrado em embalagens para ovos, louças, e outros utilitários domésticos, também classificado como possível cancerígeno pelas agências americanas.  

Cloridrato de Tamoxifeno. Comecei a tomar na segunda-feira, 12 de maio,  e pelos próximos cinco anos essa droga fará parte do meu cardápio diário, tão logo acabe de jantar. Lí a bula, como sempre faço, mas, desta vez, procurei ignorar as advertências sobre efeitos indesejáveis, coisinhas como risco de trombose ou câncer do endométrio, que afinal atingem uma porcentagem pequena de usuárias (1% a 2%), e me concentrar no benefício anunciado pela minha oncologista, que foi o que me fez optar por esse medicamento em vez de outro: o Tamoxifeno fortalece os ossos e a possibilidade de evitar osteoporose é muito importante. Esta é  a droga usada comumente por quem precisa de hormonoterapia, como eu, e cinco anos é o prazo estipulado normalmente para que se considere que o organismo está livre do câncer.

Mas, segundo minha médica, pesquisas recentes mostram que em alguns casos o benefício de tomar a droga por 10 anos já está comprovado e eu tenho o perfil indicado para isso. Começamos visualizando um prazo de cinco anos, ao fim do qual será avaliado se o tratamento deve continuar. Disse a ela que aceito tomar por 10 anos, desde que a gente assine um pacto de que estarei viva até lá, e aí a gente reavalia e assina outro pacto  de mais 10 (kkkkk).

Parece que o remédio não é fácil de achar; procurei em seis farmácias na Avenida Caxangá e só uma tinha o dito cujo. Por precaução comprei duas caixas; preciso ficar atenta pra quando acabar uma já comprar outra. Descobri onde fica a distribuidora, no Derbi,  e vou procurar lá, onde também deverei encontrar um preço mais em conta. Também preciso ficar atenta pra não esquecer de tomá-lo, afinal cinco anos é um bocado de tempo!