Morro de pena e indignação. Há poucos dias, em minha própria família, vi um exemplo da deseducação que os brasileiros vêem dando aos seus filhos: minha sobrinha, de apenas sete anos, recusou-se a comer o almoço oferecido (diga-se de passagem, bastante bom e nutritivo, com feijão verde, arroz, carne, salada e suco) e ficou fazendo birra. Para não encher o saco dos adultos, o pai lhe deu o que queria: bolo, biscoitos e coca-cola, enquanto via filminhos na TV.
Minha sobrinha está gordinha, o diâmetro da cintura já é quase o dobro do que há dois anos! Esse é um dos exemplos que poderia ilustrar a Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, divulgada em 2010, que aponta um ritmo crescente de obesidade entre as crianças brasileiras: cerca de 16% dos meninos e 12% das meninas com idades entre 5 e 9 anos são hoje obesas no País, quatro vezes mais do que há 20 anos. A razão principal é que o aumento recente da renda média do brasileiro levou à substituição dos alimentos naturais pelos industrializados e a maiores níveis de estresse e sedentarismo, que estão por trás do crescimento dos índices de obesidade na população em geral. As taxas de excesso de peso passaram de 42,7%, em 2006, para 48,1%, em 2010, segundo pesquisa do Ministério da Saúde. Eu acrescentaria que, em relação às crianças, os pais são culpados porque não "têm mais saco" para exigir o comportamento certo. Educar dá trabalho, e os pais modernos não querem mais se estressar com seus pimpolhos, preferem resolver as situações de momento, sem pensar nas consequências.
E uma das consequências é bastante cruel: a ong World Cancer Research Fund (WCRF) estima que cerca de 30% dos tipos de câncer no Brasil estão relacionados à dieta, às atividades físicas e ao peso. Porta-voz da ong, Richard Evans, disse por e-mail à BBC Brasil que "com relação ao câncer de intestino, um dos tipos de câncer mais ligados ao estilo de vida, estimamos que 37% dos casos brasileiros estejam relacionados a esses fatores." Associada a alimentação deficiente, a falta de atividade física vem compor um quadro alarmante, que se agrava a cada dia: as escolas já não têm a educação física como disciplina; crianças pequenas passam horas demais diante da TV, usada como babá eletrônica; os adolescentes usam o computador por mais tempo do que aquele que dedicam aos estudos e a convivência com a família e os amigos; as brincadeiras já não envolvem a queima de calorias como antigamente, quando brincávamos na rua e correr e pular era natural entre nós.
No ano passado a WCRF emitiu um alerta sobre o aumento da incidência de cânceres no mundo, que cresceu 20% na última década, sendo registrados 12 milhões de novos casos ao ano – número superior à população da cidade de São Paulo. O crescimento do número de casos de câncer foi maior que o crescimento da população mundial, que passou de 6,2 bilhões de pessoas para 6,9 bilhões (cerca de 11% de aumento), segundo estatísticas da ONU. Os cálculos do WCRF, que tomam por base dados da Organização Mundial de Saúde, dizem que cerca de 2,8 milhões de casos estão relacionados à alimentação, às atividades físicas e ao peso da população, "número que deve crescer dramaticamente ao longo dos próximos dez anos". O alerta foi feito diante da preocupação com as doenças não transmissíveis – câncer, males cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas e diabetes - por serem uma ameaça ao mundo inteiro, principalmente aos países em desenvolvimento", segundo a WCRF.
Temos, mesmo, de nos preocupar e mais que isso: exigirmos políticas públicas que estimulem a adoção de boas práticas de alimentação e atividades físicas, pois estamos nos transformando numa população doente.
Eu, Mariza.
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Jornalista. Revisora de livros. Mãe de Maíra. Criadora de gatos. Batuqueira de maracatu. Viciada em filmes antigos, séries de TV e blogs de literatura. Estudante de francês e inglês. Acredita na humanidade, apesar dos pesares
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