I Concurso Cepe de Literatura Infantil e Juvenil

23:21

Os pernambucanos Manoel Constantino Filho e Lucas Mariz foram os primeiros colocados no I Concurso Cepe de Literatura Infantil e Juvenil, promovido em 2010 pela Companhia Editora de Pernambuco – Cepe, que teve a festa de premiação nesta quarta-feira (26), no auditório da Livraria Cultura, no Recife.

Mais de 400 obras, de candidatos do Amazonas ao Rio Grande do Sul, concorreram aos prêmios, com grande diversidade de temas, estilos e propostas. Na Categoria Juvenil, além do romance social Anjo de rua, do escritor e diretor teatral Manoel Constantino Filho, foram selecionados Urian Agria de Souza, segundo colocado, com o livro de poemas A cor da palavra, e o paulista Felipe Arruda, em terceiro, com o conto Chuvisco. Na Categoria Infantil, o estudante de cinema Lucas Mariz de Araújo levou o primeiro lugar com O conto do garoto que não é especial. A segunda colocada foi a paulista Ana Cristina Abreu, com O coelho sem cartola, e o terceiro, Itamar Morgado da Silva, com o livro Bia Baobá. O primeiro colocado de cada categoria recebeu R$ 8 mil, o segundo R$ 5 mil e o terceiro R$ 3 mil. 






Também foram concedidas sete menções honrosas. Na Categoria  Juvenil, os agraciados foram o paraibano  Júnior Camilo de Souza, com a obra Em Memória; a pernambucana Rejane Maria dos Guimarães Paschoal, com Histórias do encantarerê; Gisele Werneck, de São Paulo, com o livro Nasci para ser Madonna; e Eloí Elisabete Bocheco, de Santa Catarina, com Roda Moinho. Na Categoria Infantil, as menções foram para Renata Wirthmann Gonçalves Ferreira, de Goiás, pelo livro O mundo de uma menina de sonhos, e Francisco Hélio de Sousa, de Brasília, por A dona Barata (diz que) foi à guerra.


Na festa, foram entregues certificados a todos os selecionados e aos membros da Comissão Julgadora, formada pelos escritores Fernando Monteiro e  Ronaldo Correia de Britto, os professores da área de literatura Aldo Lima (UFPE) e Wanda Cardoso (Secretaria de Educação), e pela editora da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Heloísa Arcoverde. A programação incluiu a exibição de um vídeo-reportagem sobre literatura infantil, cedido pela Globonews, e palestra sobre as características da literatura infantil e seu mercado editorial, com a participação da professora Nelma Menezes Soares de Azevêdo, da UFPE, e de um dos fundadores da Edições Bagaço, Paulo Caldas, com mediação do jornalista Schneider Carpeggiani, do Jornal do Commercio e também editor do Suplemento Pernambuco. Um dos momentos mais aguardados foi a assinatura dos contratos para publicação dos livros classificados em primeiro lugar, nas duas categorias.


A decisão pelos ganhadores foi quase unânime. Cada membro da comissão escolheu seus dez livros preferidos e apontou os três favoritos em cada categoria, havendo grande coincidência de opiniões. Como critérios estabelecidos pelos jurados, foram buscados principalmente a originalidade e a adequação do tema ao público. O encantamento foi o que mais motivou Heloísa Arcoverde: "...nós queríamos o encantamento. Algo forte e original, que fizesse com que os jovens saíssem da frente da televisão e do computador. Que se comovessem. Porque literatura é isso: você transforma o mundo pelo que você lê e vê o mundo com outros olhos. Os dois primeiros lugares tiveram essas qualidades. Na categoria infantil, O conto do garoto que não é especial foge do lugar comum, mostrando que o normal pode ser uma coisa muito boa. Na juvenil, Anjo de rua tem um lado social forte, que faz com que o jovem olhe ao seu entorno”.

O concurso visou a criação do selo Infantil e Juvenil da Cepe Editora. Os  livros serão publicados neste primeiro semestre de 2011,  com expectativa de  serem utilizados como paradidáticos nas escolas da rede pública e privada de Pernambuco. Para o escritor Fernando Monteiro, o concurso veio mostrar a necessidade de que novos autores sejam publicados: “Há muita gente querendo espaço, produzindo coisas, talvez consequencia da internet, que levou muita gente a escrever. A demanda já existe. Um concurso como esse se mostra extremamente necessário, nesse ambiente de carência tão grande de oportunidades para o escritor”.


Saiba mais sobre os premiados:

Categoria Infantil

1- O conto do garoto que não é especial, de Lucas Mariz
O livro fala de um menino comum, que vive uma vida comum. Ao contrário dos contos de fadas e histórias de super-heróis, ele não descobre nenhum poder secreto. “Quis mostrar que o que é especial, na verdade, é o mundo”, diz o estudante do curso de Cinema da UFPE, Lucas Mariz. Essa foi sua primeira incursão no universo da literatura infantil. “Eu queria participar do concurso e então adaptei em forma de conto uma animação que tinha feito na faculdade. A primeira coisa que fiz foi pesquisar a estrutura dos livros que eu gostava quando era pequeno. Escolhi fazer o livro todo em estrofes livres, com quase tudo rimando”, conta Lucas, que também ilustrou todo o livro. “Sempre escrevi somente por hobby, mas fiquei animado em produzir mais depois do resultado do prêmio”, disse. 

2- O coelho sem cartola, de Ana Cristina Silva Abreu
Um coelho de circo, que trabalha sendo retirado todo dia da cartola pelo mágico, fica inesperadamente sem emprego. O dono do circo diz que números como o dele não fazem mais sucesso. Ele então inicia uma longa jornada em busca de um mágico que queira contratá-lo. No caminho, encontra uma menininha que o faz questionar: será que ser coelho de cartola é tudo que ele sabe fazer? “O que o conto passa é que sempre há uma alternativa. Se algo não der certo de um jeito, há outros caminhos a seguir”, diz Ana Cristina, que trabalha na Justiça Federal, em São Paulo, e é formada em Comunicação Social. “Sempre escrevi. No ano passado ganhei uma afilhada e passei a me interessar mais sobre o universo infantil”, conta Ana, que quase perdeu o prazo de inscrição no concurso. “Vi pela internet e mandei o conto em cima da hora”.

3- Bia Baobá, de Itamar Morgado da Silva
O advogado e artista plástico Itamar Morgado Filho não precisou sair de casa para encontrar a inspiração para o seu conto premiado. “Eu comecei a gestar Bia Baobá quando soube que minha filha mais nova estava grávida”, diz. “A personagem principal tem um pouco das minhas duas filhas. É um livro sobre as diferenças da lógica infantil e da lógica adulta. E, às vezes, as crianças são até bem mais sensatas que nós” diz Itamar. Este também foi o primeiro conto infantil do autor, mais acostumado a escrever textos de crítica de arte. “Foi uma experiência prazerosa. Fiz também várias ilustrações, que ajudam a contar a história. No livro, aproveitei ainda para discutir algumas questões bem atuais, como o bullying nas escolas e a necessidade de se respeitar as características especiais de cada um”, explica.
Categoria Juvenil

1- Anjo de rua, de Manoel Constantino
O romance estava guardado há dez anos, quase esquecido. Quando soube do concurso da Cepe, Manoel Constantino lembrou da história do menino de rua Careca e resolveu voltar a trabalhar no texto. “Quando escrevi a primeira versão a ideia era filmar um curta-metragem, mas o projeto acabou engavetado”, diz o autor. Anjo de rua foi inspirado numa notícia de jornal sobre um garoto que havia sido pego roubando e foi jogado no rio. “Ele morreu afogado”, lembra Manoel, que se baseou num menino que frequentava a rua Sete de Setembro, no Centro do Recife, para construir seu protagonista. “O nome Careca é uma homenagem a ele ”, diz. Diretor de peças teatrais e autor de três livros de poesias - Esquina, Ardências e AçoiteAnjo de rua é o primeiro livro juvenil de Manoel. “Queria publicar o texto de alguma forma e, sem muita pretensão, inscrevi no concurso”, comemora o autor, que já prepara o seu segundo livro juvenil.

2- A cor da palavra, de Urian Agria de Souza
Desde a década de 1960 que o artista plástico Urian Agria de Souza desenha e pinta com um papel ao lado. “Todas as ideias que passam na cabeça eu escrevo”, diz. E assim  colecionou poemas, frases e lembranças ao longo de quase sessenta anos. Mas não pensava em transformar seus escritos em literatura. “O mais próximo que eu cheguei desse universo foram as ilustrações que fiz para capas de livros”, brinca. Até que a companheira de Urian ficou sabendo do concurso da Cepe pela internet e o incentivou a ver com outros olhos as anotações feitas nos momentos de pintura. “São coisas ligadas à minha infância no Pará e também aqui no Recife. Fui costurando versos antigos com outros novíssimos, como se estivesse criando uma pintura”, conta Urian. 

3- Chuvisco, de Felipe Arruda de Toledo Pereira
Uma foto antiga, que mostra uma família numa fazenda do interior de São Paulo, foi a inspiração para o conto de Felipe Arruda. “A imagem parece trazer uma série de lembranças. A partir da foto eu fui imaginando uma história sobre o dia em que ela foi tirada”, explica o autor. E assim surgiu a história do menino solitário que passa um dia se divertindo na fazenda vizinha à sua casa. No conto, ele passa a narrar como foi esse dia, e, ao descrever o momento em que a foto foi tirada, ele começa a se questionar se aquilo tudo aconteceu mesmo ou se foi um sonho. “É uma sensação de lembranças que os adolescentes têm da infância. Além de revisitar o passado, quis dar a sensação de se ser transportado para um outro ambiente, uma fazenda, um lugar mais simples e afetuoso”, conta o autor, que fez parte da coletânea de contos Tempo bom, lançada em apoio às vítimas das enchentes do inverno de 2010.

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2 comentários

  1. Os títulos selecionados demonstram as infinitas possibilidades de abordagem de temas relacionados ao universo infantil, por autores de idades e bagagens diferenciadas, sem perder o encantamento!
    Parabéns aos organizadores e participantes.

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  2. Oi Itamar. É isso mesmo, a intenção é incentivar o aparecimento de novos escritores e formar leitores.

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