Eu, Mariza

Compartilho aqui os resultados de duas pesquisas que podem alertar muita gente sobre como pequenas atitudes do cotidiano são importantes na prevenção de doenças, em especial do câncer de mama. A primeira é um estudo da Sociedade Americana do Câncer, publicado na revista científica "Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention", que acompanhou 73 mil mulheres  de 50 a 74 anos, durante 17 anos. O estudo comprova que uma caminhada diária de uma hora diminui os riscos de contrair a doença, evidenciando a importância do estilo de vida para a saúde. É a primeira vez que uma pesquisa associa diretamente a redução entre risco de contrair câncer com os benefícios da caminhada.

Outra pesquisa interessante diz respeito a nossos hábitos de consumo, em especial o arraigado hábito de usar utensílios de plástico para guardar alimentos. Quanto mais colorido, mais o plástico contém partículas tóxicas em sua composição. O ideal é utilizar potes e outros utensílios de vidro, se a tampa for de plástico que seja transparente ou branca, e deixar sempre um espaço entre o alimento e a tampa, evitando que se toquem. O eixo principal da pesquisa é alertar para a importância de reduzir ao máximo o consumo de plásticos, em especial o hábito de guardar alimentos em embalagem plástica. A organização Breast Cancer Fundation  aconselha a se frequentar mais as feiras livres e substituir produtos de beleza e produtos de limpar a casa por soluções naturais e ecológicas.

O aspecto prático do uso do plástico o tornou imprescindível na vida moderna e fez com que fosse adotado em 100% dos lares. Mas o plástico, além dos problemas para o meio ambiente, traz também riscos para  saúde, por conter alto teor químico em sua composição, como o Bisphenol A (elemento dos blocos de policarbonato, usado em centenas de produtos, inclusive embalagens de alimentos); Phthalates ( encontrado em plásticos e PVC, associado a distúrbios endócrinos como antecipação da puberdade em meninas, o que constitui um fator de risco de câncer de mama);  Vinyl Chloride (um dos primeiros elementos químicos associado a incidência de câncer pelo National Toxicology Program (NTP) e a International Agency for Research on Cancer (IARC), responsável por grande número de casos entre os trabalhadores na manufatura de plástico e PVC); Dioxin,  classificado como carcinógeno e responsávelpor disfunções endócrinas pela International Agency for Research on Cancer (IARC) e a Environmental Protection Agency (EPA); e Styrene, encontrado em embalagens para ovos, louças, e outros utilitários domésticos, também classificado como possível cancerígeno pelas agências americanas.  

Cloridrato de Tamoxifeno. Comecei a tomar na segunda-feira, 12 de maio,  e pelos próximos cinco anos essa droga fará parte do meu cardápio diário, tão logo acabe de jantar. Lí a bula, como sempre faço, mas, desta vez, procurei ignorar as advertências sobre efeitos indesejáveis, coisinhas como risco de trombose ou câncer do endométrio, que afinal atingem uma porcentagem pequena de usuárias (1% a 2%), e me concentrar no benefício anunciado pela minha oncologista, que foi o que me fez optar por esse medicamento em vez de outro: o Tamoxifeno fortalece os ossos e a possibilidade de evitar osteoporose é muito importante. Esta é  a droga usada comumente por quem precisa de hormonoterapia, como eu, e cinco anos é o prazo estipulado normalmente para que se considere que o organismo está livre do câncer.

Mas, segundo minha médica, pesquisas recentes mostram que em alguns casos o benefício de tomar a droga por 10 anos já está comprovado e eu tenho o perfil indicado para isso. Começamos visualizando um prazo de cinco anos, ao fim do qual será avaliado se o tratamento deve continuar. Disse a ela que aceito tomar por 10 anos, desde que a gente assine um pacto de que estarei viva até lá, e aí a gente reavalia e assina outro pacto  de mais 10 (kkkkk).

Parece que o remédio não é fácil de achar; procurei em seis farmácias na Avenida Caxangá e só uma tinha o dito cujo. Por precaução comprei duas caixas; preciso ficar atenta pra quando acabar uma já comprar outra. Descobri onde fica a distribuidora, no Derbi,  e vou procurar lá, onde também deverei encontrar um preço mais em conta. Também preciso ficar atenta pra não esquecer de tomá-lo, afinal cinco anos é um bocado de tempo!

 

 

Não deu mais pra aguentar. Dei adeus ao IRWAM e me transferi de vez para a Radioterapia do Hospital Português. Devia ter feito isso há tempos, em vez de dar ouvidos aos argumentos sobre atraso no tratamento, risco do plano negar a mudança etc etc. Depois que, mais uma vez, o bendito acelerador do IRWAM  quebrou (dias 5 e 6), resultando que em duas semanas eu fiz apenas quatro aplicações de radioterapia, exigi conversar com meu médico, Dr. Leonardo, a quem expus minha dúvida principal: até que ponto essas interrupções resultariam em perda de eficiência do tratamento e poderiam afetar meu estado clínico?

Não deu outra. O médico revelou que há, sim, perda de eficiência pelas interrupções do tratamento. Como não podemos prever o comportamento da máquina, caso continue havendo panes semanais, como agora, é justo pensar numa perda de 30% a 40%. É muito! Diante disso, pedi que me encaminhasse para o Hospital Português, onde vou recomeçar o processo. O novo médico, Dr. Ernesto, pediu urgência para fazer tomografia do tórax sem contraste. O plano autorizou sem mais delongas e eu já fiz o exame. Agora aguardo ser convocada para concluir o planejamento do tratamento, o que inclui micro tatuagem nos pontos onde os raios vão incidir.

Conversei com algumas pacientes do HP, que me disseram que estão passando pelo tratamento sem nenhuma surpresa desagradável. O ambiente também tem uma qualidade mil vezes superior a do IRWAN, com muitas árvores, restaurantes e lanchonetes, estacionamento coberto,  banheiros super limpos. É claro que se paga caro por esses confortos; mas quando se alia o conforto com a perspectiva de eficiência no tratamento, não dá pra pensar duas vezes. IRWAM nunca mais!

 

 

Quase dá pra comemorar...mas ainda é cedo. Perto de terminar as sessões semanais de quimioterapia, fui informada que durante um ano, a cada três semanas, devo tomar um reforço de Herceptin, uma das drogas que já vinha tomando. Tudo bem, já passei pela primeira: é na veia, mas dura somente meia hora, enquanto antes eu ficava duas horas e meia presa ao tubo de soro. Resta saber se as sensações (peso, cansaço, formigamento etc) vão permanecer por um ano, ou desaparecerão antes disso (devidamente anotado para falar do assunto na próxima consulta). Não vejo a hora de ser dona do meu nariz outra vez, voltar a dirigir e poder resolver coisas triviais sem precisar mobilizar a família toda.

Paralelamente comecei a fazer radioterapia, no Instituto de Radioterapia Waldemir Miranda - IRWAM, no Paissandu. Quem estiver lendo este blog, aceite um conselho, pois vos fala a voz da experiência: nunca aceite, para sí ou  familiar, se for o caso, ser tratado neste lugar. No meu caso são 28 sessões, de segunda a sexta-feira, das quais já se foram  três. As aplicações duram apenas 20 minutos, e os técnicos são atenciosos. O grande problema é esperar cerca de quatro horas até ser atendida! Já xinguei até a quinta geração da minha oncologista por ter me encaminhado para um local onde gestão administrativa competente e respeito aos pacientes são palavras jogadas ao vento. Só pra dar um exemplo: na segunda-feira, 28 de abril, que seria o início do tratamento radioterápico para mim,  cerca de 40 pacientes estavam marcados para o turno da manhã, mas o expediente começou com as sessões de planejamento do tratamento de mais cinco (detalhe: tanto o planejamento quanto o tratamento necessitam do uso das mesmas máquinas, um acelerador linear ou uma de cobalto, dependendo de cada caso). Às 11h30 o paciente marcado para às 8h ainda não tinha sido atendido. E às 14h30, simplesmente todos foram mandados embora porque o acelerador iria entrar em manutenção! Com a recomendação de que telefonássemos no dia seguinte, pra confirmar se a máquina estaria funcionando!

Alguém já viu um desrespeito maior? Entre os pacientes - muitas pessoas idosas e frágeis - vários vêm do interior e até de outros estados, como Paraíba e Alagoas. Pessoas de diversos bairros vêm de ônibus, num sacrifício enorme, e todo mundo sabe do que estou falando porque a qualidade do nosso transporte público é sobejamente conhecida. Alguns usam bengala (como eu, agora), para ajudar a suportar o peso nas pernas. Ah, gente. Rodei a baiana, soltei o verbo, xinguei pela falta de respeito com todos ali, pela incompetência administrativa (porque não consta no contrato que a manutenção seja feita no sábado ou de madrugada?), reclamei pela falta de estrutura, pois os banheiros são mistos e sem saída de ar (ui, que fedor!) e não tem sequer um local para venda de lanche nas proximidades, etc etc etc.

Pensam que adianta? Meus companheiros de radioterapia parece que já estão acostumados com esse desrespeito e, aos poucos, foram saindo calados. Pensei em cancelar tudo e tentar me transferir para o Hospital Português, mas teria problemas com a burocracia do meu plano e atrasaria em mais um mês, no mínimo, um tratamento que já estava começando tardiamente, porque a radioterapia tem mais eficiência quando iniciada até seis meses após a cirurgia, e a minha já tem quase oito meses (culpa do IRWAM, que cometeu vários erros de encaminhamento administrativo comigo, atrasando meu atendimento; mas isso é outro papo). Assim, fiquei refém da falta de estrutura do instituto. Dia seguinte, liguei e ouvi que "a máquina está funcionando mas estamos um pouco atrasados porque teve queda de energia, e precisamos reiniciar o acelerador". Enfim, os problemas acontecem diariamente. Tenho saído de lá depois das 3h da tarde, faminta, cansada e aborrecida, e o meu trabalho na Cepe Editora está sendo prejudicado. Mas, para não preocupar mais a família com meu jeito estressado, porque "não adianta de nada" , resolvi ficar zen  e seguir a maré. Nesse país, ou a gente fica abilolada ou morre de raiva, enfarto, estresse...

E assim (des)caminha a humanidade...

PS: De bengala e curativo no dedão, após extrair a unha.

No dia 8 de maio, organizações de pacientes de câncer de ovário, de diversos países, unem-se para divulgar a doença, informando as mulheres sobre seus sinais e sintomas. O objetivo é aumentar as chances de diagnóstico precoce, tratamento de qualidade e garantia de direitos. Ao contrário do câncer de mama, o de ovário é pouco divulgado e seus sintomas podem ser facilmente confundidos com problemas digestivos, e incômodos da menstruação ou da menopausa. Por isso, muitas vezes, as mulheres só procuram o médico quando já é tarde demais. O "Dia Mundial do Câncer de Ovário" será realizado pela segunda vez, com participação do Brasil que se integrou a campanha de conscientização sobre a importância da doença, infelizmente tão silenciosa e letal.

Anualmente, quase 250 mil mulheres no mundo são diagnosticadas com câncer de ovário, e cerca de 140 mil morrem. As estatísticas mostram que apenas 45% delas têm probabilidades de sobreviver por cinco anos, em comparação com 89% das mulheres com câncer de mama. É a menor taxa de sobrevida entre os cânceres ginecológicos. Os sintomas na fase inicial são comuns e, aparentemente, "normais”: perda de apetite, menstruação irregular, mudança nos hábitos intestinais, micção frequente. Dores abdominais persistentes, inchaço e complicações intestinais são sintomas importantes para a detecção da doença. A maioria das mulheres não reconhece a ligação entre esses sintomas e o câncer de ovário, por isso muitas são diagnosticadas em estágio avançado, o que dificulta as chances de cura.

Diagnosticado precocemente, o tumor pode ser retirado com cirurgia, sem necessidade de quimioterapia e radioterapia. 

Consultem o site da campanha, com conteúdo em inglês, francês, espanhol e português: ovariancancerday.org. Divulguem nas redes sociais e entre as pessoas amigas.





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