Eu, Mariza

Descobri tardiamente que minha maior identificação com William S. Burroughs vem do amor que ele tinha pelos gatos. Gosto da literatura dele e quase invejo a vida porralouca que levou, que contribuiu para formar as bases dessa literatura e disseminar um ideal de liberdade entre os jovens dos anos 1960, mas isso pouco importa diante do amor pelos gatos. A relação com os bichanos tira o Burroughs da condição de mito intelectual e o torna um homem comum, ocupado em alimentar, limpar o cocô, fazer carinho, cuidar do bem-estar deles. Me sinto irmanada com o ex-beat, principalmente pelas semelhanças da relação dele com Rusky, um gato cinza, e com Horatio e vários outros gatos brancos que teve ao longo da vida. Eu tenho Tininha, que não chega a ser cinza, e meu branco é Sivuca.

No livro O gato por dentro (The cat inside),  Burroughs descreve os diversos gatos que passaram pela sua vida e como esses relacionamentos foram marcantes, enfatizando sua ligação especial com os felinos brancos: "O gato branco simboliza a lua prateada que se intromete nos cantos e purifica o céu para o dia seguinte... O gato branco é o caçador e o matador, e seu caminho é iluminado pela lua prateada. Todos os  lugares e pessoas escondidos nas sombras são revelados sob essa luz suave inexorável. Você  não consegue  afastar seu gato branco porque seu gato branco é você. Não pode se esconder de seu gato branco, porque seu  gato branco se esconde com você".

 Quem for ao Parque da Jaqueira neste Dia das Crianças poderá participar do lançamento da coleção infantojuvenil da Cepe Editora. São nove livros, com uma qualidade de impressão maravilhosa. A equipe está de parabéns pelo rigoroso cuidado com a edição.

Tô concorrendo na Bienal, na brincadeira Termine essa história.
Achei ótima a ideia de continuar um texto escrito por Ronaldo Correia de Britto, a quem admiro demais.Pena que em apenas 240 caracteres o texto tem de ser praticamente monossilábico!

No próximo ano, espero que mantenham o concurso mas dobrem o espaço. Fica  a sugestão.

Thiago de Mello sonhou durante 20 anos com uma antologia da poesia latino-americana e trabalhou para isso. Pesquisou, selecionou, traduziu e finalmente publicou, com o título de Poetas da América de Canto Castelhano (Global Editora, 496 páginas, R$ 79,00), uma seleta de cerca de 400 poemas de 120 autores de 18 países, além de Porto Rico. Muitos dos poetas foram entrevistados pessoalmente por ele, que teve a graça de conviver, ou tão somente conversar, com Neruda, Jorge Luis Borges, Manuel Bandeira, Ernesto Cardenal e outros.
Da seleção inicial de 200 poetas, 80 ficaram de fora por problemas de negociação com autores,  herdeiros e agentes literários, reivindicações impossíveis de serem atendidas, segundo o editor, e outras dificuldades. Só essa parte tomou dois anos. Mas o que importa é que o resultado é monumental. Inclui poetas consagrados, como Mário Benedetti (Uruguai), Gabriela Mistral, Vicente Huidobro (Chile), Alfonsina Storni (Argentina), Nicolás Guillén (Cuba), César Vallejo (Peru), mas também nos aproxima de outros igualmente geniais porém praticamente  desconhecidos do público brasileiro, como Oscar Cerruto, Franz Tamay, Augusto Céspedes, Gregorio Reynolds, Sergio Bath, Blanca Wiethüchter, Ida Gramcko e muitos mais, todos representativos da melhor poesia do continente de língua espanhola

Aos 85 anos, bem vividos, Thiago faz a festa dos amantes da poesia, brindando a todos com este livro fundamental.

O regulamento está disponível no site www.cepe.com.br

 

As estatísticas mostram que o brasileiro não tem o hábito de ler. Por isso mesmo, iniciativas de estímulo à leitura têm de ser incentivadas. Assim como a música diz que "todo artista tem de ir aonde o povo está", os livros devem ser colocados ao alcance dos possíveis leitores, pois a facilidade de acesso pode representar a diferença entre ler ou não ler.


Uma das iniciativas que merece ser copiada, com as adaptações necessárias, evidentemente, é a biblioteca Embarque na Leitura, resultado da parceria entre o Instituto Brasil Leitor, que mantém o projeto Ler é Saber, e o metrô de São Paulo.São bibliotecas instaladas nas estações Tatuapé, Santa Cecília, Paraíso e Luz, além da estação de trem do Braz, por onde circulam milhares de pessoas diariamente. Mais de 540 mil livros já foram emprestados a cerca de 50 mil usuários cadastrados. A maioria dos leitores está na faixa de 20 a 30 anos, mas o campeão de pedidos de empréstimo de livros do projeto é um garoto de nove anos, LRLS, morador de Osasco, que em dois anos solicitou 190 obras.

Os livros disponíveis vão dos clássicos a autores contemporâneos brasileiros e estrangeiros, literatura recomendada para o vestibular, best sellers, infanto-juvenís, religião, auto ajuda e outros. Anotei alguns: Morangos mofados, de Caio Fernando Abreu;  A mesa voadora, de  Luís Fernando Veríssimo; No bunker de Hitler - os últimos dias do III Reich, de Joachin Fest; As noites das grandes fogueiras, de Domingos Meireles; O homem que via o trem passar, de Georges Simenon, entre outros.

O cadastro é simples e os empréstimos (por 10 dias, renováveis) são inteiramente gratuitos.

Desculpem o sumiço! Saí de férias e esqueci de avisar! Estou em São Paulo com minha filhota, mas estou de olho nas novidades literárias e em breve reapareço por aqui!

Abraços,
Mariza

A Companhia Editora de Pernambuco  – Cepe, abriu inscrições ao seu II  Concurso   de Literatura Infantil e Juvenil, até 30 de junho. O objetivo é estimular os escritores destes dois segmentos da literatura e formar novos leitores. Os prêmios são de R$ 8 mil para o primeiro colocado de cada categoria, R$ 5 mil para o segundo e R$ 3 mil para o terceiro.Em 2010 foram inscritas 435 obras, de vários estados. As premiadas e as que conquistaram Menção Honrosa serão publicadas este ano pela Cepe Editora, que lança seu selo infanto-juvenil. Em primeiro lugar ficaram Anjo de Rua, de Manuel Constantino (categoria Juvenil), e O conto do garoto que não é especial, de Lucas Mariz (categoria Infantil).

Veja aqui o regulamento do concurso:

O poeta Manuel Bandeira faria 125 anos em 19 de abril. Para comemorar, a Secretaria de Cultura do Recife está realizando, até 1º de Maio, programação que envolve saraus literários, declamação de poemas, peças teatrais e outras ações, no Espaço Pasárgada, o casarão onde Bandeira passou a infância, na Rua da União, onde  também ocorrem rodas de debate, oficinas, exibição de filmes e "plantões literários", em que o público conversa com escritores e poetas. No dia 19 a Coordenadoria de Literatura promove um grande recital poético na Rua da Aurora, onde está a estátua do poeta, a partir das 16h30, quando Lucila Nogueira, Valmir Jordão, Pedro Américo de Farias, Ícaro Tenório e outros vão recitar seus poemas preferidos escritos por Bandeira.

De 26 a 29  acontece o projeto De bicicleta com Bandeira, que vai usar o popular sistema de propaganda com uso de bicicletas para alardear por diversos bairros poemas gravados por poetas recifenses. No dia 25 é a vez do Bandeira nas paradas, em parceria com a Releitura- Rede de Bibliotecas Comunitárias da RMR, que vai surpreender agradavelmente quem estiver esperando ônibus,  com releitura de poemas, mini contos e pequenos "causos". Dia 29, a partir das 19h, no Espaço Pasárgada, tem o Beba poesia, mostra de poemas visuais desenvolvidos por alunos que frequentam as bibliotecas da rede.

Incluo aqui o meu poema preferido de Bandeira, tristemente atual: O Bicho (escrito em 27/12/1947)

A Academia Pernambucana de Letras está promovendo um curso imperdível para quem se interessa por Literatura e  História: Ficção e História em Pernambuco será dividido em dois módulos, Cem anos de ficção em Pernambuco (1847-1938), com os professores Luzilá Gonçalves e Lourival Holanda, e Ficção no século XX: 1940-2000, com vários professores.

Acaba de sair do forno a edição de abril do Suplemento Pernambuco (nº 62), que já pode ser encontrada nas bancas e algumas livrarias, como a Cultura e a Saraiva. Sem querer puxar a brasa para minha sardinha, já que sou redatora do dito cujo (colunas Notas de Rodapé e Prateleira), devo dizer que este é o único jornal de literatura que temos atualmente no Recife, espécie de último moicano numa terra que durante muito tempo cultivou a tradição dos cadernos de literatura, quando estes eram  considerados essenciais para consolidar a imagem de "bien pensant" dos jornais.
Não me atrevo a dizer que o Pernambuco é o único jornal literário do Estado porque pode haver alguma publicação do gênero sendo feita em algum município, por uma meia dúzia de corajosos dons quixotes, lutando pelas bandeiras da literatura e da  reflexão. Desconheço, mas tomara que exista!

Está acontecendo até amanhã (31 de março), no Centro Cultural dos Correios, no Recife Antigo, o ótimo Festival de Literatura e Mídia Digital, que este ano homenageia os poetas Ângelo Monteiro e Lucila Nogueira. A programação inclui filmes, exposição, palestras, recitais e lançamentos de livros.
O objetivo do festival é refletir a interface entre as novas mídias (redes sociais, blogs e sites literários) com a literatura e a consequente democratização e acesso para a maior parte do público leitor e escritores que não teriam como imprimir suas obras. Segue a programação:

Uma das pessoas mais criativas, instigantes e antenadas que conheço é, sem dúvida, o escritor, blogueiro, professor, produtor cultural e coordenador de Literatura da Secretaria de Cultura do Estado, Wellington de Melo. Ele está sempre fazendo acontecer... Entre as iniciativas recentes, a que mais gostei foi o concurso no seu site, propondo a recriação do primeiro poema do seu livro O peso do medo -30 poemas em fúria. Muita gente concorreu e três recriações foram selecionadas. São ideias simples, como esta, que incentivam novos talentos a mostrar a cara, a perder o medo das críticas que, às vezes, destroem uma ambição literária ainda em trabalho de parto. Acho o cara genial, não só por seu próprio talento mas por abrir portas para outros, sem o medo mesquinho da concorrência.

Tenho dele, também, o livro [desvirtual provisório], acho que foi o primeiro a ser lançado, e recomendo a leitura dos dois.

Sempre que chego em casa sou recebida com uns miaus esfomeados (eu sou a que serve a comida e água), que depois se transformam em miaus de DR (eles ficam muito tempo sozinhos e se sentem abandonados, querem atenção); depois de ganhar uns afagos, os miaus são de chamado pra brincar (os de Tininha, a minha Tina Turner de pelos longos e olhos verdes, uma lady, refinada e tranquila) e de "quero colo" (os de Sivuca, o branquinho de olhos azuis, um  eterno menino dengoso pois foi castrado muito cedo...nunca fez sexo, coitadinho...).

Quem diz que gatos não são carinhosos nunca conviveu com felinos. Eles sentem falta de companhia, ficam deprê se forem deixados muito tempo sozinhos, mas dormem tranquilos e seguros quando a  gente está perto. E quando ganham carinho, ronronam de felicidade. São bonitos, macios, limpos, elegantes, encantadores. E adoram livros. Aliás, qualquer coisa que você estiver lendo, o que ele vai demonstrar sentando nas páginas, cochilando sobre a capa, tentando virar as folhas com as unhas afiadas...

Na literatura, é constante a presença dos gatos.Veja aqui alguns exemplos: 

Leonardo Dantas Silva me manda e-mail com letras de canções do Carnaval pernambucano. Autor do livro Carnaval do Recife, jornalista e pesquisador, ele fala dos sentimentos que nos assolam na Quarta-Feira de Cinzas, que chega só pra contrariar, dando início a Quaresma que, no passado, era tempo de reflexão, jejum e abstinência de carne, mas hoje é só o aviso de que está na hora de começar a planejar o feriadão da Semana Santa.

Acabo de ler E os hipopótamos foram cozidos em seus tanques,  escrito  em 1945 por William S. Burroughs e Jack Kerouac, e somente lançado em 2009, depois de falecidos todos os implicados na tragédia passional  retratada no livro, inclusive os dois autores. A trama envolve sexo, drogas, jazz (ainda não ocorrera a explosão do rock) , poesia, homossexualismo, amizade, e o ócio, a falta de perspectivas e o vazio de uma juventude que dava largos passos na direção do que viria a ser a  beat generation que eclodiria nos Estados Unidos nos anos 1960 e 1970, cuja melhor expressão não está na literatura e sim no cinema (Easy Rider , Hair e outros filmes).

Burroughs e Kerouac eram amigos da vítima e do jovem assassino. Ficaram obsecados pela história que mudou o rumo de suas vidas. Hoje, o crime seria apenas mais um entre milhares de casos de violência mas, na época, abalou a sociedade, a ponto de vários outros escritores terem se inspirado na mesma história. O livro dos dois autores, então ainda inéditos, não é um primor literário mas já mostra a força narrativa de ambos. O maior interesse fica por conta da fusão entre  autores e personagens/pessoas reais, pela projeção mundial que ganhariam depois ao influenciarem toda uma geração. E o resto é história.

Resolvi abrir espaço para colaboradores, depois que recebi do professor/poeta Alexandre Furtado um artigo sobre os dias chuvosos e alagadiços que o Recife enfrenta, vez por outra. Alexandre lançou em 2010 seu primeiro livro, de ruas e inti-nerários, pela Cepe Editora, onde também levanta contrapontos entre o Recife de hoje e o de sua infância e adolescência.
Eis o artigo:

Que nada, meu amigo!
Céu de brigadeiro? Que nada! Anos atrás, o inverso deste inverno. Em junho e julho tudo costumava ser cinzento, quando não mesmo escuro. Na verdade, as primeiras ausências dos dias ensolarados começavam já no final de maio. Aquilo sim era inverno, mas uma diferença: até onde sei, não havia muitos desastres, alagamentos monumentais, perdas de carros, desabamentos e quedas. Outro Brasil nos setenta. Talvez as coisas ficassem no lugar, a natureza mais ou menos intocada protegendo a cidade que, por sua vez, não era tão verticalizada, barulhenta, engarrafada e violenta. De todo, naqueles dias, dava até ter medo sair de casa, as condições pluviométricas densas nos deixavam imaginar que todo o céu cairia em nossas cabeças, eram outras as lendas urbanas. A escola? Distante demais pra mim! E por que? Pois, ficava no centro, hoje me divirto com as noções de lugar, é que criança acha tudo distante e demorado, mas o caminho era molhado, claro, aliás a umidade pesava o ar, e o pior, não tínhamos chuveiro elétrico, era luxo, o banho ficava na base da tora e da coragem mesmo.

"Com açúcar e com afeto", Ariadne Quintella me manda seu livro Revisitação da estética barroca na poesia religiosa de Ângelo Monteiro, que será lançado dia 22, às 18h30, no espaço cultural da Defensoria Pública (Rua Marques Amorim, 127, Boa Vista). Vai ter recital poético e palestra da escritora Jacineide Travassos.

O livro conjuga o ótimo texto de Ariadne, jornalista especializada em Literatura Brasileira e Arte, com a poesia de Ângelo Monteiro "de sólida formação humanística e refinado senso estético", como diz Bernardo Souto no prefácio. Ariadne oferece um panorama do Barroco no Brasil que, difundido pelos Jesuítas, se fez presente em diversas manifestações artísticas. Ela analisa o  barroquismo na poesia religiosa e aponta a  intertextualidade entre o poeta alagoano/pernambucano Ângelo Monteiro e o baiano Gregório de Matos.

Daniel Lima é o nome dele. Tem 95 anos e sorriso de garoto traquinas. Às vezes se faz de "gagá" para driblar os indesejáveis. E escreve. Tem 27 livros inéditos, sobre poesia, ética, estética e política. Ontem foi lançado seu primeiro livro, Poemas, pela Cepe Editora. Acabamento de primeira: capa dura, revestimento em Couchê fosco, projeto gráfico primoroso...tudo como ele merece. Livro de POESIA  maiúsculo, nas letras e no sentimento. Poucas vezes o auditório da Livraria Cultura esteve tão lotado. Seus amigos e admiradores são muitos e de bom quilate: Edson Nery da Fonseca, Jomar Muniz de Brito, José Paulo Cavalcanti, Lourival Holanda, Zeferino Rocha, Luzilá Gonçalves, José Mário Rodrigues, Almir Castro Barros, Egidio Ferreira Lima, e mais uma penca de escritores, poetas, ex-alunos... tantos que não dá pra nomear.

Seguem três poemas do livro, escolhidos ao acaso, pra dar uma ideia de como escreve esse homem abençoado!

O personagem Joseph Língua faz sua cantoria no ótimo portal Cronópios:  http://www.cronopios.com.br levado pelas mãos do autor do áudio-livro Linguaraz, Pedro Américo de Farias. Vale a pena conferir. 

Olhaí, gente, uma campanha que merece total engajamento:

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - Apae, está expandindo a sua biblioteca. Quem puder doar livros infanto-juvenís, didáticos, paradidáticos, poesia e ficção, por favor, não deixe pra depois. O gênero não importa muito, porque o que não estiver ao alcance do público da Apae, constituído de pessoas de 2 a 74 anos, será colocado à venda no bazar mensal que a entidade promove.

Além dos livros, pode ser doado para o bazar toda espécie de objeto, desde que esteja em bom estado de conservação. O endereço da Apae é Estrada do Arraial, 4744 - Casa Amarela (depois do mercado e perto do Monteiro). Quem quiser mais detalhes, inclusive agendar a entrega das doações, caso sejam muito volumosas, pode ligar para o número 33553522.

Perdi 30 minutos para ver, dia desses, o BBB-11. Vejo esporadicamente, só pra saber sobre o que as pessoas andam falando. Jurando que nunca mais vou ver semelhante asneira, acabo voltando ao local do crime e me decepcionando por ver um dos melhores textos do jornalismo brasileiro, Pedro Bial, incensando os egos de uma turma que parece concentrar no bundalelê toda sua capacidade mental, salvo raríssimas exceções.

Isso me remete ao livro O show do eu - a intimidade como espetáculo , de Paula Sibília (Nova Fronteira),  resultado de  pesquisa/tese de doutorado em Comunicação, defendida na UFRJ que, entre outros pontos, fala dos " jogos de poder que insistem em transformar o eu autoral em uma grife, quando se valoriza cada vez mais a personalidade de quem fala em demérito daquilo que é dito".

A amiga Lêda Rivas me mandou a palestra do jornalista Eric Nepomuceno no lançamento da coleção Darcy no bolso, realizada em janeiro no Memorial Darcy Ribeiro, na Universidade de Brasília. Eric selecionou os textos do antrópologo, escritor e fundador da UNB, que compõem os dez livros que sintetizam sua vida, da infância em Minas Gerais até o exílio após o golpe militar de 64, os amores, a convivência com os índios, as reflexões sobre a América Latina, e a criação da UNB.

A palestra de Eric Nepomuceno foi um depoimento emocionante sobre esse homem fantástico, capaz de sonhar coisas grandes para o País e de arregaçar as mangas, fazendo sua parte, para tentar concretizar esses sonhos.

Estará se repetindo o fenômeno que ocorreu quando A Trupe do Barulho estreou com Cinderela, a história que sua mãe não contou, lá se vão uns dez anos?

Tentei assistir o espetáculo O amor de Clotilde por um certo Leandro Dantas, no Janeiro de Grandes Espetáculos, no qual sou jurada dos espetáculos de dança contemporânea, e os ingressos estavam esgotados há vários dias, inclusive para a sessão extra que foi oferecida  às 21h.A peça da Trupe Ensaia Aqui e Acolá, baseada no conto de Carneiro Vilela, A emparedada da Rua Nova, é simplesmente imperdível.

 Vi duas vezes, quando esteve em cartaz no XIII Festival Recife do Teatro Nacional, ano passado, depois de cumprir outras temporadas. A cada vez chamei pessoas para ir comigo, que também comentaram com outras. E é assim, principalmente pelo aval de quem assiste, que o público tem aumentado vertiginosamente. Nada funciona mais que  o boca-a-boca quando um produto é oferecido.

A história original é trágica: a moça solteira que engravida, contrariando a rígida moral do século dezenove, é emparedada pelo próprio pai. Mas na versão da trupe a crítica social é feita pela via do melodrama, com  elementos circenses, gestos exagerados, uma estética kitsch e paródias bregas, tudo isso dominando a cena e provocando gargalhadas, para coroar a vitória do amor de Clotilde e Leandro.

Espero que a peça ganhe nova temporada.