Pelo buraco da fechadura

12:53

Perdi 30 minutos para ver, dia desses, o BBB-11. Vejo esporadicamente, só pra saber sobre o que as pessoas andam falando. Jurando que nunca mais vou ver semelhante asneira, acabo voltando ao local do crime e me decepcionando por ver um dos melhores textos do jornalismo brasileiro, Pedro Bial, incensando os egos de uma turma que parece concentrar no bundalelê toda sua capacidade mental, salvo raríssimas exceções.

Isso me remete ao livro O show do eu - a intimidade como espetáculo , de Paula Sibília (Nova Fronteira),  resultado de  pesquisa/tese de doutorado em Comunicação, defendida na UFRJ que, entre outros pontos, fala dos " jogos de poder que insistem em transformar o eu autoral em uma grife, quando se valoriza cada vez mais a personalidade de quem fala em demérito daquilo que é dito".



A autora cita o ex-BBB Jean Willys, professor que virou celebridade instantânea ao vencer uma edição do reality show e que lançou sua autobiografia na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, em 2005. Pois bem,  essa bienal registrou um incrível recorde de público, de centenas de milhares de pessoas, mas uma pesquisa no local revelou que muitos nunca tinham lido um livro sequer. O que eles queriam era comprar o livro para ganhar autógrafo e tirar foto com o autor, cujo papel de personagem ainda era o dominante.

O livro de Paula Sibilia reúne teoria e prática para mostrar como as pessoas almejam ser (re)conhecidas, o que decorre não mais pela capacidade de acumular bens (inclusive conhecimentos e cabedal cultural), mas  pela capacidade de ser, de deixar o anonimato de pessoa comum para se distinguir como diferente e especial, ainda que nessa tentativa de autenticidade se reproduzam modelos e esquemas. A sociedade ocidental vem legitimando uma cultura que estimula, ao mesmo tempo, o prazer de observar a vida do outro e de expor a nossa, num grande festival de "vidas privadas". Não só os participantes de reality show, mas qualquer um que se revele em blogs, fotologs e sites de  relacionamento está sucumbindo às novas imposições que incentivam,  cada vez mais, a exteriorização, o extremo culto à personalidade,  e nos distanciam do monólogo interior que caracterizava os velhos diários secretos.

 Longe de mim ser contra a revolução provocada pela web, mas entendo que é interessante conhecer como se dá esse fenômeno do qual fazemos parte e que não tem mais volta. Recomendo a leitura do livro.

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