Eu, Mariza

Acabo de ver no GNT entrevista de Marília Gabriela com a psicóloga e jornalista Valéria Baraccat, fundadora do Instituto Arte de Viver Bem, cujo site  ( www.artedeviverbem.com.br) já acessei várias vezes. O instituto faz um  belo trabalho de reabilitação de mulheres carentes que desenvolveram câncer de mama.Valéria é campeã de superação: descobriu o câncer em 2004, já passou por cinco cirurgias, contando com as de reconstrução, teve recidiva em 2012 e passou pelo segundo tratamento, mais pesado que o primeiro. Em vez de choramingar, mergulhou mais fundo nas causas sociais e resolveu ajudar outras mulheres: criou o instituto e acaba de inaugurar uma casa de apoio.

Na entrevista, além de falar das dificuldades de conseguir o apoio de empresários brasileiros aos projetos que desenvolve, como a casa de apoio para as mulheres e a publicação de uma cartilha em fascículos (iniciativa que eu já citei neste blog), entre outras, ela falou também de cuidados que as mulheres precisam ter para uma qualidade de vida melhor,  e que ela descobriu na prática, como paciente, ou recebeu a dica de médicos amigos.

Fiquei sabendo, então, de mais algumas cositas sobre as quais NINGUÉM tinha me alertado até agora. Por exemplo, que antes de começar a quimioterapia todo paciente, seja qual for o tipo de câncer, deve procurar o dentista e tratar dos dentes, simplesmente porque a químio baixa demais a imunidade e alguma bactéria oportunista pode aproveitar o momento para se instalar. A químio também suga toda água, deixando o corpo muito ressecado, por isso é tão importante tomar litros e litros de líquido para repor as perdas. E outra coisa, que descobri por conta própria: temos de proteger bastante o estômago, porque os remédios para controlar os vômitos atingem demais essa parte. No meu caso, que já tive úlcera e tenho gastrite e refluxo, parece que o dragão que mora no meu estômago expele baforadas de fogo que só são controladas à base de pantoprazol: mais um remédio pra ingerir!

Ela falou também sobre os direitos das pessoas com câncer, mas isso eu quero tratar num post específico. O tema integra a lista de assuntos tratados no site do instituto, que traz informações sobre a importância dos exercícios físicos - moderados - na recuperação das mulheres, muitos dos quais podem começar logo após o operatório, para fortalecer a musculatura e evitar que ocorra linfedema; também para impedir o sedentarismo e obesidade, pois a gordura alimenta as células cancerosas. É impressionante, mas os médicos mastologistas, os primeiros a terem contato com a mulher com câncer , raramente orientam para a necessidade desses cuidados desde a primeira hora, principalmente a necessidade de drenagem linfática, pois o linfedema pode ocorrer a qualquer tempo.

Fico matutando: como é possível que saibamos tão pouco, nada ou quase nada, sobre câncer, se essa é uma das doenças mais antigas do mundo? Só agora, com a internet, as informações começam a circular, principalmente por interesse das pacientes, como Valéria Baraccat, que pesquisam e dividem com outras pessoas os resultados de suas buscas, na tentativa de reproduzir informações que possam trazer alívio ao sofrimento, ajuda para aumentar a autoestima, conhecimento das leis, a conquista de direitos etc,  numa corrente infinita que vai sendo acrescida de novos conhecimentos.

Por mais que a gente tente fugir das obrigações sociais que envolvem o Natal, acaba sempre se vendo às voltas com compras de presente, roupa nova, menu da ceia etc., mas eu fugo como o diabo da Cruz de até passar na porta de qualquer shopping e supermercado quando se aproxima essa data (mesma coisa com o Dia das Mães). Ainda mais este ano, quando tem recomendação médica para evitar multidão.

Tentei ao máximo antecipar as compras de Natal, mas ainda tive de ir no Tacaruna há 15 dias, e mesmo evitando as lojas de departamento, sempre lotadas, acabei ficando muito cansada (naturalmente, não comentei isso com minha médica, né...). Mas consegui administrar tudo: tem presente pra todos os irmãos, roupa nova bonita, pratos encomendados na padaria para pegar na tarde do dia 25,  todas as contas pagas antes do vencimento e a geladeira abastecida de frutas e verduras.

Minha preocupação em organizar tudo com antecedência é que minha terceira sessão de quimioterapia estava marcada para a sexta-feira, 20.  São praticamente oito dias de mal-estar. Assim a previsão é de passar a noite de Natal com a canseira nas pernas que me faz passar do sofá pra cadeira e de volta pro sofá...e na bolsa os comprimidos que me livram dos enjoos e vômitos. Vamos todos cear na casa do meu irmão querido Jácio e minha cunhada-irmã Gladys, em Olinda. Não só  cear, mas ficar pra dormir, porque uma das melhores coisas do Natal é dormir todos na mesma casa para curtir o café da manhã no dia seguinte e comentar da festa e dos presentes.

O "reveióm" vai ser em meu AP, apenas o pequeno grupo de irmãos, solidários comigo, que virão começar o ano novo ao meu lado, desejando SAÚDE e felicidades e curtindo minha árvore, presente de aniversário de meu irmão Jaciel, onde estão pendurados os anjinhos de madeira que estão comigo há 24 anos, comprados quando morei em Brasília.

Tim tim, mis hermanos, "muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender". Amo vocês.

A primeira vez que vi Miró foi num documentário sobre poesia marginal. E me incomodou sua atitude performática ao extremo, sua verborragia, suas contorções corporais, de tal modo que se perderam as palavras do poeta magrelo "preto, pobre e periférico", como então se definiu.

Depois eu vi Miró frente a frente, cortante feito navalha na carne da realidade. Como ignorar o dedo na cara da burguesia; os bois com nome, endereço e CPF; a verdade jorrando da boca e os gestos soltos, o corpo todo expressando a dor de quem se entrega à sanha dos atiradores de pedra, dos linchadores de poetas, dos matadores da palavra nascente, mas nunca se cala?.

Quem já viu/ouviu Miró sabe que sua verdade interior explode feito panela de pressão, em palavras e gestos inseparáveis. Inteiro, total e unicamente Miró.


Domingo, 8 de dezembro de 2013.

Tenho pensado sobre o que há em comum entre tantas pessoas que estão sofrendo de câncer, no mundo todo, e a conclusão é que a alimentação é o fator universal . Os diversos tipos de cânceres são responsáveis por cerca de 13% dos óbitos mundiais: mais de 7 milhões de pessoas! Somente no Brasil são cerca de 150 mil mortes por ano!!! Entre os homens, morre-se mais de câncer de pulmão, próstata e estômago; entre as mulheres, de câncer de mama, pulmão e intestino ( infelizmente, a informação indica um triste reflexo do aumento do tabagismo entre as mulheres). Uma simples pesquisa no site do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostra como os atuais padrões de vida nos tornam vítimas em potencial, pela convivência agressiva com fatores químicos, físicos e biológicos resultantes do acelerado processo de industrialização, cada vez mais evoluído. Nossas relações com o trabalho, nutrição e consumo em geral, estão nos matando.

Ao mesmo tempo que comemoramos o aumento da expectativa de vida da população, temos de lamentar que esse ganho venha acompanhado da incidência de doenças crônico-degenerativas, entre as quais o câncer, cuja ascensão já beira uma epidemia no Brasil, constituindo-se em problema de saúde pública de grandes proporções. Dados do Sistema Único de Saúde, em pesquisa de 2006 , mapeiam a incidência regional dos diversos tipos de cânceres, em função dos fatores de risco, modos de vida da população e qualidade das informações coletadas. O que se percebe é o registro de uma morte para cada três casos novos! A boa notícia - considerando meu caso - é que os tumores de mama e os de próstata são os que têm melhor prognóstico (que alívio!).

Naturalmente, quem quiser se aprofundar nesses estudos pode visitar o site do Inca (disponibilizado em nossa relação de links). Quanto a mim, matutando sobre o que há em comum entre os pacientes de câncer, incluindo de crianças a idosos, só posso ver a alimentação como fator universal, já que outros fatores teriam, forçosamente, de considerar variáveis como ambiente de trabalho, estresse, poluição, sedentarismo e outros. A comida, portanto, é o grande vilão.

VIVIA-SE MELHOR NO TEMPO DO ARROZ COM FEIJÃO

Não é de hoje que os hábitos alimentares têm sido associados ao desenvolvimento de cânceres, principalmente de mama, cólon (intestino grosso), reto, próstata, esôfago e estômago, devendo ser evitado o consumo regular de comidas ricas em gordura, como carnes vermelhas, frituras, molhos com maionese, salsicha, presunto, mortadela, bacon, linguiça, leite integral  e derivados, além de outros.

Segundo o site do Inca,  as substâncias (nitritos e nitratos) usadas na conservação de embutidos e enlatados contêm agentes cancerígenos; defumados e churrascos são impregnados pelo alcatrão, presente na fumaça do carvão; alimentos preservados em sal, como charque, carne-de-sol e peixes salgados, podem estar relacionados ao câncer de estômago, devido aos altos teores de sódio. Uma alimentação pobre em fibras e rica em gorduras e calorias - como hamburguer, batata frita, bacon - pode se relacionar ao câncer de cólon e reto, porque desacelera o ritmo intestinal, expondo as mucosas por mais tempo; a ingestão de gorduras saturadas também aumenta o risco de câncer de mama e próstata porque altera a dosagem de hormônios no sangue. O armazenamento de grãos e cereais exige cuidados, principalmente porque a umidade pode levar ao aparecimento de fungos cancerígenos. E, embora o site do Inca não site essa variável, penso que não se pode descartar a atuação dos agrotóxicos sobre os alimentos.

Para evitar a exposição aos agentes cancerígenos via alimentação, é importante controlar o peso e ingerir pouco sal,  aumentando o uso de temperos como cebola, alho, azeite e salsa; e não cozinhar em temperaturas muito altas, que representam risco para câncer de estômago e colo retal, dando-se preferência ao cozimento mais lento no  vapor, fervura, pochê, ensopado, guizado, cozido ou assado. Todo mundo sabe que deve incluir na alimentação doses generosas de frutas, verduras, legumes e cereais integrais, que auxiliam as defesas naturais do corpo, podendo bloquear ou reverter processos iniciais de carcinogênese. Vale lembrar que a ingestão através de suplementos não tem o mesmo efeito; e que a ingestão dos bons alimentos só funciona como fator de proteção quando adotada regularmente.

BRASIL

Pesquisa do Ministério da Saúde, que em 2010 ouviu quase 55 mil brasileiros,  comprova que nossos hábitos alimentares mudaram para pior, estando entre as seis primeiras causas de mortalidade por câncer. Foram-se os bons tempos em que a população consumia diariamente arroz com feijão, talvez porque mudou a dinâmica das famílias, que não têm mais tempo para o preparo de alimentos demorados. Se aumentou o consumo de frutas e verduras, paralelamente aumentou o consumo de carnes com maior teor de gordura e comidas semiprontas, menos nutritivas (daí que existe maior incidência desse tipo de câncer nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde se consome mais carne e o poder aquisitivo da população permite adquirir mais vezes uma alimentação "prática"). A ingestão de fibras é baixa. Aumentou a ingestão de refrigerantes e sucos artificiais, que têm alta concentração de açúcar (76% dos adultos consomem ao menos uma vez por semana, e 27 % cerca de cinco vezes na semana; 42% dos jovens consomem diariamente; e somente 15% dos brasileiros adotam as versões diet e light). A ingestão dos alimentos que constituem fator de proteção aumentou, mas ainda está abaixo do recomendado, enquanto se verifica um consumo exageradamente alto de bombas calóricas do tipo hamburguer, batata-frita e cachorro-quente, independente de classe social.

Piorando o quadro, a população é basicamente sedentária. Soma-se ao consumo errado de alimentos um estilo de vida que privilegia o conforto e a quase inatividade, provocando níveis de obesidade nunca vistos antes na história deste país, inclusive entre as crianças. A situação é de alerta. As autoridades de saúde precisam iniciar já e de forma contínua uma ampla campanha por um estilo de vida mais saudável, porque, se continuar como está, o bicho câncer vai pegar.

Finalmente entendi, depois que, literalmente, foi desenhado pela minha fisioterapeuta, Luciana Magalhães, porque não devo tirar as cutículas das unhas e tenho de redobrar os cuidados na cozinha, para não me cortar ou queimar. Os médicos disseram que as defesas ficam reduzidas após a retirada de linfonodos da axila, mas só agora entendi como se dá o processo. Tudo bem, eu sou lenta...dammmmmmmmmm.

Luciana é fisioterapeuta do Hospital do Câncer de Pernambuco há 22 anos, tendo implantado esse serviço para mastectomizadas. Fui lá para fazer uma avaliação do meu linfedema (braço inchado e dolorido), mas o tratamento de drenagem linfática será feito no consultório dela. Não acho justo, podendo pagar, tirar a vaga de alguém que só tenha o serviço público como alternativa. Ainda não foi desta vez que inaugurei meu cartão do SUS.

Luciana mostrou, ou melhor desenhou a localização dos agrupamentos de linfonodos no corpo humano (axilas, virilhas, pescoço, tórax e abdomem) e explicou como eles atuam na defesa do organismo, sintetizando anticorpos. Eis um exemplo bem simples: se, ao fazer as unhas, com retirada das cutículas, a manicure me provoca um "bife" e este infecciona, alguma bactéria pode penetrar na corrente linfática e, ao chegar na axila, vai encontrar uma barreira formada pelo meu sistema de defesa linfático, que  vai eliminar essa "sujeira" através do suor ou da urina. Porém, a retirada de linfonodos, mesmo que sejam apenas três, como foi o meu caso, pode desarmonizar o sistema, que não tem mais capacidade para filtrar a linfa como antes. Daí ser tão recomendado que não se retirem as cutículas e na cozinha se usem luvas protetoras.

Estou fazendo exercícios ensinados por Luciana para "puxar" a linfa do lado esquerdo para a axila direita, que funciona perfeitamente, e para a virilha esquerda; e na terça-feira, 3 de dezembro,  começo as visitas ao consultório, duas vezes por semana, para massagens.

Tá legal, agora que ficou bem entendido, estou conformada. Vou tentar me acostumar com um novo jeito de cuidar das unhas, o que para mim é mais difícil do que ficar sem cabelos, já que para estes existe a solução fácil de usar lenços e perucas.