Quando a gente não tem muita opção de divertimento, qualquer coisa pode virar festa. Depois da segunda sessão de quimioterapia, na sexta-feira de manhã, a diversão noturna foi fazer com minhas irmãs um ensaio fotográfico, experimentando uma peruca e vários lenços. A peruca foi um presente enviado por Leny, irmã de minha cunhada Gladys, e mais do que um simples objeto de beleza ela tem um significado de superação através da autoestima. Há dois anos e meio Leny, que mora em Maceió,  teve câncer de mama e passou por uma mastectomia. Perdeu um peito e os cabelos, teve várias complicações, mas jamais perdeu o sorriso nem a fé. "Deus está no comando" é o seu lema. Nunca a vi se queixar nem lamentar nem descuidar da aparência. Todos a chamavam de guerreira e eu várias vezes elogiei sua força e sua coragem, dizendo "quero ser como você quando crescer". Mal sabia que logo estaria quase na mesma situação.

Durante seu tratamento, Leny sempre esteve linda, bem vestida, bem humorada, arrumada e penteada, ou melhor, "perucada". Ela foi minha inspiração desde o primeiro instante, porque talvez, se eu não tivesse tido um exemplo tão próximo de alguém com a mesma doença e com tanta capacidade de superação, eu não tivesse ficado tão tranquila e confiante de que tudo vai dar certo. Fiz uma  adaptação da peruca para meu estilo: lavagem, tintura mais escura, escova, corte Chanel. A responsável é Dona Rizzo, que tem um salão no bairro do Espinheiro, recomendada por todas as mulheres que lidam com pacientes de câncer, pois suas perucas feitas com cabelo humano são famosas pela aparência natural.

Outra inspiração foi a jornalista paulista Flávia Torres, ex-modelo, que vi numa entrevista do programa Superbonita, da GNT. Ela criou uma fanpage, que tem milhões de acessos, e escreveu um livro, que vem lançando em várias capitais, mostrando que a quimioterapia e a beleza podem conviver. Dicas de maquiagem, amarração de lenço, modelos de perucas, histórias de sucesso, caras e bocas, está tudo lá, no site da Flávia (vejam na sessão de links: Quimioterapia e Beleza). Decidi que manteria o mesmo astral dessas e de outras mulheres. A vida é bela e não há que se perder tempo com lamentações.