Tom Jobim que me perdoe o uso abusivo de Águas de Março para ilustrar meu momento atual. Em vez de espinho na mão, a sensação é de formigamento intenso e permanente, enquanto os pés, que sempre foram bem tratados, agora estão com bactérias e fungos nos dedões, e uma sensação estranhíssima, também permanente, de chapinhar na lama. Tudo consequência da quimioterapia!

Os dedões me valeram uma odisseia por vários dermatologistas, até encontrar profissionais decentes que vão  me indicar o tratamento certo: Vera Santos e Marina Falcone, que trabalham na mesma clínica,  me fizeram ontem , quinta-feira, exame detalhado, com lupa; Vera receitou antibiótico e me encaminhou pra consulta com Marina, que decidiria sobre a oportunidade de tirar - ou não -as unhas;  Marina solicitou uma cultura, uma pesquisa laboratorial da bactéria e do tipo de fungo. Explicou que normalmente não se tiram as unhas, que são uma proteção, mas as minhas estão tão soltas que talvez caiam sozinhas; se não, vamos extrair, porque além de infectadas elas podem prender no lençol ou serem vítimas de batidas. Foi o que aconteceu na quarta-feira, quando bati com o pé esquerdo no pé do sofá (logo depois da vitória do Sport): a dor me fez trincar os dentes, enquanto o sangue jorrava, literalmente, deixando um rastro no chão até o banheiro.

O procedimento das duas médicas parece óbvio para qualquer dermatologista, principalmente atendendo um paciente de câncer, porque há o risco das bactérias entrarem na corrente sanguínea. Mas, infelizmente não é assim. Minha odisseia começou logo após o Carnaval, quando as unhas começaram a descolar, ou melhor, pareciam estourar, cheias de fungo, ficando repentinamente pretas e mal cheirosas. Procurei um cirurgião para extrair, visando o tratamento do fungo. Ele disse não, alegando que seria uma porta aberta à infecções, e que procurasse um dermatologista . Sábio conselho, mas os dois primeiros dermatologistas que encontrei não honram a classe e só atrasaram o processo de cura. O primeiro, que é professor da UFPE (!), mandou que colocasse o pé sobre a sua mesa (!!), mal olhou para o dito cujo e mandou que procurasse um podólogo para lixar a superfície da unha até ficar bem fina (!!!), para facilitar a queda da mesma, e receitou um esmalte carérrimo para combater o fungo, coisa que levaria cerca de um ano, segundo me alertou.  Quem disse que eu sigo a receita de  gente que mal olha pra área que deveria examinar? Comigo, não, violão!.

Procurei outra pessoa, dessa vez uma mulher, mas o atendimento não foi muito diferente: parecendo apressada, ela deu uma olhada superficial e receitou Rifocina spray por duas semanas, duas vezes ao dia, para combater a infecção. "depois volte pra gente ver a evolução, mas tudo indica que vai ter de extrair; se precisar eu vou te encaminhar para um cirurgião". Claro que não melhorou coisa nenhuma, a Rifocina foi um paliativo. Agora, finalmente, estou sendo acompanhada por profissionais que usaram o tempo de faculdade para aprender e têm interesse real na cura dos seus pacientes.

Quanto a  minhas mãos, agora demoro o triplo do tempo para escrever, porque cometo vários erros no teclado: os dedos resvalam e pegam letras que não deviam; os objetos caem com frequência, devido à dormência; minha letra está irregular e minhas digitais simplesmente desapareceram (tenho brincado que sem digitais posso me tornar uma matadora de aluguel, quem tiver desafetos pode preparar a lista. Cuidado comigo! .kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ).