Paciente de câncer é feito carro velho: tem de fazer revisão periodicamente. No meu caso, depois das idas e vindas normais ao mastologista após a cirurgia (para  retirar o dreno, tirar os pontos, tirar seroma e finalmente ser liberada para a vida - quase - normal), a primeira revisão foi ontem, 70 dias depois de operada e antes de passar pela segunda sessão de quimioterapia. Primeiro uma boa notícia: a recuperação cirúrgica  está indo bem e fui elogiada pela minha volta ao trabalho e por vir fazendo as tarefas normais de dona-de-casa, como varrer e lavar pratos, o que é um ótimo exercício para os braços. Porém, eis que surge um detalhe surpreendente: faço parte da estatística de 1% que , tendo tirado apenas três linfonodos, apresentam linfedema (inchaço no braço), cujo tratamento requer fisioterapia. Ganhar na loteria, que é bom, necas de pitibiriba...nas vezes em que joguei não acertei um número sequer!

Eu estava toda contente por ter recuperado meus movimentos com bastante rapidez, tendo feito apenas alguns exercícios que me foram sugeridos: "escalar" a parede com os dedos (de perfil para a parede, ir subindo os dedos até onde alcançasse, depois descer devagar); dar "chausinho de miss"; desenhar um oito horizontalmente, subindo vagarosamente até acima da cabeça e depois ir descendo até a altura da cintura. São exercícios bem simples, que cansam bastante o braço e repuxam os músculos mas funcionam que é uma beleza, juntamente com meu mètier de varredora de casa e lavadora de pratos. Tudo ia bem até duas semanas atrás quando, de repente, o braço esquerdo passou a doer quando tento estirá-lo, e a inchar. A sensação é que internamente tenho elásticos ligando do pulso ao ombro, e que estes estão curtos, incomodando quando são estirados...

Quem tira muitos linfonodos precisa fazer drenagem linfática para inibir o inchaço, provocado pela "sujeira" causada pela incapacidade de filtragem da linfa. Mas eu não deveria apresentar esse quadro, porque não fiz  esvaziamento axilar. O médico recomendou 10 sessões de fisioterapia e disse apenas que  fui premiada, não tem uma explicação pra isso, que só acontece em 1% de vezes. Então, lá vamos nós: já marquei para amanhã uma avaliação no setor de fisioterapia do Hospital do Câncer, aonde vou pela primeira vez na vida. Mas no caminho vou entrar na primeira casa lotérica que encontrar e jogar na megasena. Quem sabe eu venha a fazer parte de outra estatística, a daqueles jogadores que ficam milionários com uma aposta de apenas R$ 2,00...